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Um reloginho no braço


21 de junho de 2018

Por Katia Gisele Costa

Naquele dia eu cheguei atrasada para buscar a minha pequena na sala de aula e encontrei a professora na porta à minha espera. Enquanto o meu bebê dormia nas almofadas azuis e laranja da salinha decorada, a professora me relatava o ocorrido entre a minha pequena e seu amigo – o delito: uma mordida no bracinho gorducho. A marca do reloginho durou alguns poucos dias, mas a memória daquela situação ficou para sempre comigo.

Hoje, treze anos depois, atrevo-me a tocar nesse assunto e, como pedagoga, a dar algumas justificativas sobre esse episódio tão comum nas classes de Educação Infantil: a mordida.

Apesar de não ser um ato com má intenção, as abocanhadas não podem ser ignoradas nem pelas professoras que atendem à criança na escola, nem pela família, até porque essa é uma situação que causa desconforto não só para a criança mordida como também para a que mordeu.

Então, a fim de justificarmos a atitude dos pequenos mordedores, podemos lembrar que na criança de até dois anos (ou mais) a percepção do mundo se dá através da boca, porém essa fase é passageira, e nem todas as crianças apresentam características voltadas à mordida.

Conhecida também como fase oral, essa é uma fase que requer cuidado redobrado, pois, assim como algumas crianças mordem, outras habituam-se a colocar na boca todo tipo de objeto que encontram (pecinhas de jogos, botões, moedas), o que pode levar a outros acidentes. Mas o que fazer e como justificar aos pais quando, mesmo com toda a atenção voltada para a turma, acontecem essas mordidas?

O primeiro conselho que eu dou é para os pais. É fundamental pensar que tanto a criança que mordeu quanto a que foi mordida são vítimas e, portanto, não há um culpado (nem criança, nem pai de criança, nem professora). O que está expressamente proibido, tanto aos pais quanto aos professores, é utilizar argumentos do tipo “se alguém te morder, morda também” ou “criança bonita não morde o amigo”. Frases dessa natureza podem transformar uma atitude passageira em agressão proposital ou ainda criar um rótulo para alguma criança, e esta passa a ser rejeitada e evitada pelos demais colegas.

O segundo conselho que eu dou é para professoras e atendentes das classes de Educação Infantil. Apesar da minha experiência comprovar que essa não é uma notícia agradável para se dar a uma mãe, o correto é usar a sinceridade e relatar aos pais de ambos os envolvidos como se deu o ocorrido e qual foi a atitude tomada na hora da mordida. É fundamental que a criança que mordeu perceba que, apesar de ser uma atitude que faz parte de uma fase do desenvolvimento infantil, a mordida dói, machuca e deixa marca.

Quanto à minha pequena que foi mordida, ganhou um beijo de desculpas do amigo, e a mãe do mordedor se desculpou comigo. Mesmo com a devida atenção dada ao ocorrido, depois de algum tempo, minha filha também deixou o reloginho no braço de um amigo.

Katia Gisele Costa é Pedagoga pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Mestre em Educação pela Universidade do Minho (Portugal). É  Coordenadora Pedagógica – Educação Infantil no Colégio Pontagrossense SEPAM, de Ponta Grossa-PR.

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