13 de junho de 2018
Por Katia Gisele Costa
Quem nunca ouviu um adulto dizer a uma criança que se ela mentir cresce o nariz?
Pinóquio, o clássico personagem italiano, fez parte da infância de uma geração que cresceu com medo de acordar com nariz comprido. O fato de a marionete ganhar vida no final da história, nada tem a ver com as mentiras contadas no desenrolar das Aventuras de Pinóquio.
Há muitos significados atrelados à palavra mentira, especialmente quando se trata de criança. Eu diria que o ato de contar inverdades é apenas a habilidade que a criança tem para dar ao adulto um argumento convincente, mesmo que este não seja verdade. A famigerada frase “criança não mente” é mentira! Criança mente sim e pode, inclusive, saber onde pode mentir, para quem pode mentir e de que forma a mentira a beneficiará ou divertirá.
Para começar, devo dizer que a presença da mentira na infância não está ligada à índole, nem à formação de caráter, nada disso. Os pais e professores percebem que a criança está mentindo quando, por exemplo, ela se diverte com a situação, tenta esquivar-se de uma culpa, sair na vantagem com relação ao outro ou quando tenta tirar proveito de alguma situação se vitimizando. É preciso valorizar dois aspectos importantes nessa história toda: 1- a criança está aprendendo a argumentar e a encontrar estratégias; sendo assim, o ato de contar inverdades não deixa de ser uma forma de aprendizado que exige, inclusive, grande capacidade cognitiva; 2- se o adulto quiser realmente saber a verdade sobre algo sério, deve fazer perguntas objetivas.
Já ouvimos, muitas vezes, pais perguntando “mas onde foi que essa criança aprendeu a mentir?” Pois, pelo convívio que os professores e pedagogos têm com as crianças, podem afirmar que nem sempre a mentira é uma atitude aprendida por imitação, como a maioria das aquisições cognitivas; a criança pode mentir por medo, por insegurança, por carência, ou simplesmente porque não distingue ainda o que é real do que é fantasia.
Até os 8 anos, aproximadamente, a criança não vê maldade em contar um fato que não seja real e, às vezes, até se diverte com a possibilidade de aumentar um acontecimento ou dizer que sonhou com algo que ela quer muito. Como, então, o adulto deve proceder diante disso? Como corrigir essa atitude na criança? A melhor maneira, ao perceber o exagero na fala da criança, é você dizer que vai confirmar a informação. Se ela disser, por exemplo: “Minha casa tem 10 andares”, você deve responder: “Legal! Então vou pedir para sua mãe me mandar uma foto”. Ao depara-se com a consequência da sua fala, a criança imediatamente percebe o erro que cometeu.
Os adultos precisam saber que as crianças respondem às suas perguntas com exatidão, assim como compreendem com mais facilidade respostas objetivas; portanto, não seja tendencioso ao perguntar, procure não influenciar a resposta da criança com expressões faciais que a façam perceber que tipo de resposta você quer que ela dê.
O ideal, então, é saber conduzir a situação conforme a gravidade do assunto. Se a criança diz que um amigo pegou seu lugar na fila (isso não é grave), você pode usar os outros amigos como testemunhas para mostrar-lhe que a mentira não leva a nada. Se o assunto for uma acusação de agressão ou abuso (isso é muito grave), o adulto deve imediatamente encontrar maneiras de averiguar a afirmação da criança.
Sendo assim, vamos, pais e professores, ficar de olhos bem abertos nos nossos pequenos Pinóquios. E lembremo-nos sempre de que a capacidade cognitiva da criança é potencializada quando ela tem por perto a mediação de um adulto sensato, equilibrado e amoroso.
Katia Gisele Costa é Pedagoga pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Mestre em Educação pela Universidade do Minho (Portugal). É Coordenadora Pedagógica – Educação Infantil no Colégio Pontagrossense SEPAM, de Ponta Grossa-PR.