13 de junho de 2018
Por Katia Gisele Costa
Num domingo desses, me dediquei a uma pilha de revistas sobre educação que eu tenho levado de um lado para o outro, na esperança de conseguir tempo para fazer leituras reflexivas, naquele dia consegui! Apesar de gostar da facilidade e utilizar muito as TICs, ainda sou fã e adepta da boa revista!
Entre os muitos artigos que li naquele domingo, temas como os desafios do professor atual, as regras do ENEM, a Crise que chegou na escola, a visível obesidade curricular, entre outros, um tema em especial, me chamou atenção. O texto de uma página, intitulado: AUTONOMIA, foi escrito por uma professora mineira que lembrou, e muito bem, a relação existente entre a habilidade para amarrar os cadarços do tênis e o início da alfabetização escolar e é nesse tema que pego o gancho da professora mineira e tento trazer uma reflexão.
Teórica e historicamente, ambos os processos de aquisição acontecem na criança justamente na fase da Educação Infantil. Poderíamos começar analisando o cadarço. As professoras podem contar nas suas salas de aula, quantas crianças levam nos pés tênis com cadarço, e aqui eu lanço uma questão: Seria a indústria de calçados famílias para ensinar seus filhos a amarrem os cadarços; ou seriam as famílias que adquiriram tênis com velcro porque aproveitaram-se do facilitismo trazido pelas indústrias de calçados? Ora, como a política da culpabilização não gera resultado nenhum, não vale a pena estar aqui perdendo tempo com discussões infrutíferas, portanto, vamos pensar na prática diária da Educação Infantil.
Autonomia, termo que significa a capacidade de governar-se pelos próprios meios, ao contrário do que se pensa, não é uma característica a ser adquirida ao longo da vida, pois a autonomia nasce conosco; ela é sim, uma caraterística a ser desenvolvida e praticada. O exercício da autonomia acontece a partir de estratégias e meios proporcionados por pessoas mais experientes, nesse caso, os adultos que convivem com a criança (aquela criança que hoje não tem tido a oportunidade de aprender a amarrar os cadarços do seu tênis), mas porque fazer esta analogia?
Se pensarmos que para amarrar os cadarços a criança já deve ter desenvolvido conceitos de tomada de decisão (para perceber que é preciso parar o que está fazendo para amarrar os cadarços), senso de responsabilidade (para pensar que é perigoso andar com os cadarços desamarrados) e habilidade motora (para unir os dois cordões fazendo uma orelha de coelhinho passar por dentro da outra e apertar), é porque possivelmente ela também encontra-se num momento cognitivo propício para a alfabetização. Apesar desta propensão não ser uma regra, pode ser sim, um indicativo, uma pista, já que a professora da Educação Infantil é um radar, portanto, vive de pistas!
Para concluir de forma construtiva, deixo por hora, aos pais e professores, e me incluo neste universo, o convite à uma reflexão. Até que ponto nós podemos contribuir de maneira informal para o exercício da autonomia das nossas crianças, sem deixarmos esta responsabilidade totalmente ao profissional da Educação Infantil? Eu permito que a minha criança vá ao banheiro sozinha? Quantas vezes eu já deixei meu filho preparar sozinho o pão que ele come no café da manhã? Eu tenho permitido que o meu filho dobre seu pijama ao acordar? Será que eu tenho deixado meu filho responder sozinho às perguntas que os outros adultos fazem para ele? E por fim, quantas vezes eu tenho proporcionado ao meu filho ou ao meu aluno momentos desafiadores como amarrar os cadarços por exemplo?
A partir disso tudo, eu lanço a minha meta da semana: ensinar a minha filha de 5 anos a amarrar os cadarços do seu tênis!
Katia Gisele Costa é Pedagoga pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Mestre em Educação pela Universidade do Minho (Portugal). É Coordenadora Pedagógica – Educação Infantil no Colégio Pontagrossense SEPAM, de Ponta Grossa-PR.